quarta-feira, 15 de maio de 2013

“Para mim a poesia é um sentimento.
Aperte o olhos, relaxe a miopia da vida e veja.
Ela paira em todo lugar,

no teu colo
nas tuas mãos
na calma da ilusão
na agonia da espera
no teu amplo silêncio
no teu choro de alegria
na agressividade do não
na batida forte do coração
na liberdade de Kurt Cobain
na aceitação da velha solidão
na doçura da flor de chocolate
na afetividade do velho escrivão
na respiração da frase que te toca
no apego aos teus livros e canções
no deslumbramento aos pés do Cristo
na beleza estonteante do garoto punk
no civismo melodramático dos sindicatos
na demência do assassino na hora do tiro
no abalo sísmico da torcida na hora do gol
na fuga desesperada daquilo que te acabou
na catalepsia da rotina que esmaga e paralisa
no domínio do amante te possuindo feito um cão
no dengo do terno e demorado abraço pela manhã
na cegueira de nossos governantes pobres de espírito
na disputa sã por um amor, uma flor, um amigo, um irmão
na consciência que o mundo está ruindo bem a nossa frente
no embaraço de uma declaração de amor de olhos brilhantes
na fragmentação da vida para no final encontrar o teu começo
na discórdia sem nexo do mundo diante da minha sexualidade
na dignidade do trabalhador as 4 da manhã na estação central
no espanto perante a guerra e a destruição de vidas humanas
no horror da miséria exacerbada pela dor e alcoolismo do pai
no idealismo estampado na bandeira política do teu partido
na histeria completa na chegada dos Beatles ao aeroporto
na derrota ao ver uma amigo ir embora pra todo o sempre
na espiritualidade de Chico Xavier, Buda e Salvador Dali
na descrença de estar vivo depois de se sentir um vazio
no dilema entre o desejo e a necessidade do dinheiro
na empatia vibrante da resposta que te faz pensar
no constrangimento do primeiro olhar apaixonado
na genialidade das palavras de Chico Buarque
no autismo perante a covardia e inexpressão
na carência pelo toque, pelo beijo, pela mão
na amargura do abandono e da decepção
no brilhantismo de um texto bem escrito
na tentação pelo errado e inaceitável
nas entrelinhas da prosa detalhada
na convicção infame da realidade
serial killer de nossos sonhos
na lágrima que não escolhe
na culpa de não estar lá
na tua pele cor de chá
na temperatura do ar
na saudade d’gente
em mim, em você
solta e imortal.

A poesia vive em cada um de nós.”
— Elisa Bartlett (via b-elong)

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Dai-me, Senhor


A casa é sua - Arnaldo Antunes




Não me falta cadeira
Não me falta sofá
Só falta você sentada na sala
Só falta você estar
Não me falta parede
E nela uma porta pra você entrar
Não me falta tapete
Só falta o seu pé descalço pra pisar
Não me falta cama
Só falta você deitar
Não me falta o sol da manhã
Só falta você acordar
Pras janelas se abrirem pra mim
E o vento brincar no quintal
Embalando as flores do jardim
Balançando as cores no varal
A casa é sua
Por que não chega agora?
Até o teto tá de ponta-cabeça
Porque você demora
A casa é sua
Por que não chega logo?
Nem o prego aguenta mais
O peso desse relógio
Não me falta banheiro, quarto
Abajur, sala de jantar
Não me falta cozinha
Só falta a campainha tocar
Não me falta cachorro
Uivando só porque você não está
Parece até que está pedindo socorro
Como tudo aqui nesse lugar
Não me falta casa
Só falta ela ser um lar
Não me falta o tempo que passa
Só não dá mais para tanto esperar
Para os pássaros voltarem a cantar
E a nuvem desenhar um coração flechado
Para o chão voltar a se deitar
E a chuva batucar no telhado
A casa é sua
Por que não chega agora?
Até o teto tá de ponta-cabeça
Porque você demora
A casa é sua
Por que não chega logo?
Nem o prego aguenta mais
O peso desse relógio

ou fez-me a vida o que sou?


quinta-feira, 2 de maio de 2013

abraço




Linha tênue
Mas segura
Terra firme
Abrigo de tempestades
Porto seguro
Como cabe um mundo
Dentro dele
Um abraço,
Meu reino por um
Abraço...

Gilson Costa

Ejaculou poesias


Tinha ânsia por desejos
Tinha saudades
Tinha urgências,
Mas só tinha ele
Uma caneta e um caderno;
Ejaculou  poesias...

Gilson Costa


Coração insensato o meu
Um dia arco íris
Outro dia um breu

Um dia só acerta
Outro muito erra
Um dia pula, sangra
Outro dia de pedra.

Gilson Costa



A lágrima não deixa o vinho mais tinto,
A tristeza não deixa os versos mais soltos,
E o tempo, não para...
Então, porque lagrimas...
Substituiremos as por taças repletas
De esperanças,
Mesmo que falsas
Mesmo que fracas,
A lagrima não deixa o vinho mais tinto
Nem a ressaca mais suave
E nem a realidade mais amena...
Não dá para beber a lagrima
Mesmo que engolindo o choro!!!

Gilson Costa

Ícaros...



E sabemos que o sol vai derreter nossas asas de cera
E sabemos que a queda será inevitável,
Mesmo assim
Voamos o mais alto possível
Ficamos encantados com o calor e o brilho
E voamos o mais alto possível
Sabemos que vamos cair e vai machucar,
Mas e daí,
Dane-se os conselhos
Queremos a liberdade de poder ir
Mais alto possível...
O instante, agora!

Gilson Costa